terça-feira, 3 de novembro de 2009

Empresas florestais do Pará vão adotar modelo digital de exploração

Visando aprimorar técnicas de manejo de recursos madeireiros, engenheiros florestais das empresas Cikel Brasil Verde e Juruá Florestal, professores da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e técnicos da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará estão se preparando para implantar o Modelo Digital de Exploração Florestal. Eles participam de capacitação oferecida pela Embrapa Acre (Rio Branco), no período de 19 a 24 de outubro, na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA).
Desenvolvido pela Embrapa Acre e Embrapa Florestas (Colombo/PR), Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Modeflora utiliza diversas tecnologias digitais para mapear a floresta e gerar informações que facilitam o planejamento, a execução e o monitoramento da atividade de manejo florestal, proporcionando menores custos para o produtor e menor impacto para o meio ambiente.
Para disseminar a tecnologia, a Embrapa Acre vem capacitando profissionais que atuam junto a empresas madeireiras, instituições de pesquisa e ensino e órgãos de controle ambiental das diversas regiões do país. O curso faz parte das ações do projeto Manejo Florestal na Amazônia, que tem entre suas metas preparar os estados amazônicos para adoção do manejo florestal digital como forma de garantir a atividade dentro de critérios legais e a sobrevivência da floresta. Segundo o pesquisador da Embrapa Acre, Evandro Orfanó, instrutor da capacitação, até final de 2010 o sistema será implementado em todos os estados da Amazônia.

Impacto reduzido

A Cikel Brasil Verde e a Juruá Florestal estão entre as principais empresas que atuam na produção florestal e beneficiamento de madeiras no Estado do Pará. Elas administram mais de 500 mil hectares de floresta e exportam madeira beneficiada e certificada para diversos países.
Evandro Ferreira, engenheiro florestal da Cikel, apesar de dispor de técnicas e equipamentos que facilitam o manejo dos recursos florestais, a empresa vem buscando alternativas mais sustentáveis. "Queremos melhorar nossa atuação na floresta e o Modeflora é um passo à frente neste processo. A grande vantagem do sistema é a precisão nas informações e a capacidade de armazenamento de dados. Isto evita erros de avaliação e minimiza riscos", diz.
O sistema está sendo testado na empresa e no ano que vem a execução do plano de manejo, envolvendo cerca de 13.700 hectares, será inteiramente com base nesta tecnologia. De acordo com Orfanó, embora algumas empresas já pratiquem uma exploração planejada é possível tornar a atividade mais eficaz. "Além de reduzir o impacto sobre o meio ambiente, o modelo digital torna o trabalho de campo mais ágil e seguro, proporcionando economia de tempo e de recursos humanos e financeiros", explica.

Novo cenário

Obrigatório no Brasil desde a década de 60, com a criação do Código Florestal Brasileiro (Lei 4.771/65), o manejo florestal é indicativo de sustentabilidade. A exploração de recursos madeireiros na Amazônia é permitida por meio de planos de manejo autorizados por órgãos governamentais ligados ao controle ambiental.
Conforme Orfanó, o modelo digital também auxilia o trabalho de fiscalização do cumprimento dos planos de manejo. O mapeamento e rastreamento das operações de campo tornam a atividade madeireira mais transparente e facilitam o seu monitoramento.
A consciência sobre a necessidade de manejar adequadamente os recursos florestais vem crescendo em diversos países e as práticas que permitem conciliar uso da floresta com preservação ambiental são cada vez mais procuradas. O manejo tradicional, caracterizado pela falta de planejamento, informações pouco confiáveis, severos danos à floresta e desperdício de matéria-prima virou sinônimo de insegurança na atividade.
Os projetos de manejo florestal sustentável e a produção de madeira certificada são indicadores de uma atividade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta.
É com foco neste tripé de sustentabilidade que a Universidade da Amazônia (Unama) vem preparando os futuros profissionais que vão atuar no setor florestal da região. A professora Gracialda Costa Ferreira, coordenadora do curso de Engenharia Florestal da instituição, participada da capacitação e diz que a transferência de conhecimentos que tornem viável a atividade florestal em seus múltiplos aspectos é fundamental para essa nova força de trabalho. Ela acredita que o modelo digital de exploração vai facilitar esse aprendizado tanto em termos teóricos como práticos.
Segundo a professora, o uso de tecnologias sustentáveis sugere um novo cenário na atividade florestal do País. No caso do Modeflora, além de contribuir para a disseminação de uma nova concepção sobre o manejo dos recursos florestais madeireiros, a ferramenta também vai suprir a necessidade de ampliar os conhecimentos sobre a biodiversidade da região. "Sabemos que a Amazônia é muito rica em recursos naturais, mas não conhecemos a dimensão desta riqueza. Com o rastreamento digital podemos aprimorar os levantamentos das espécies animais e florestais existentes nas áreas de manejo", conclui.

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